EUROPA ESQUENTA MAIS RáPIDO QUE O MUNDO – E RECORDES ALARMAM

Relatório registra acúmulo de ondas de calor, seca, incêndios florestais e enchentes graves em 2023. Efeitos prejudicam natureza e seres humanos. Fortalecimento de energias renováveis é a boa notícia.Os efeitos das mudanças do clima global ficam cada vez mais óbvios, e a Europa não é exceção. Isso comprovam os dados compilados no relatório mais recente do Copernicus Climate Change Service (C3S) e da Organização Mundial de Meteorologia (WMO): foram registrados os três anos mais quentes no continente desde 2020, assim como os dez mais quentes desde 2007.

Ao lado de 2020, 2023 foi o ano europeu mais quente, cerca de 1ºC acima do período de referência, 1991 a 2020. Ao todo, tratou-se de um ano complexo e diversificado, resume o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo: “Em 2023, houve na Europa os maiores incêndios florestais já registrados, foi um dos anos mais úmidos, com fortes ondas de calor marinhas e inundações devastadoras em larga escala.”

Ao todo, as chuvas na Europa estiveram cerca de 7% acima do usual, e um terço dos rios apresentou cheias, em parte severas. Cerca de 1,6 milhão de cidadãos foram afetados por enchentes, pelo menos 40 morreram, segundo estimativas provisórias do Banco de Dados Internacional para Catástrofes (EM-DAT). As tempestades fizeram 63 vítimas, incêndios florestais, outras 44. Os eventos meteorológicos e climáticos na Europa provocaram, ao todo, danos de 13,4 bilhões de euros, mais de 80% devido a inundações.

“A crise do clima é o maior desafio da nossa geração. Os custos das medidas climáticas podem parecer altos, mas os da inação são muito maiores”, adverte Celeste Saulo, secretária-geral da WMO.

Saúde em perigo, seca e incêndios

Os cientistas alertam, ainda, para um aumento do impacto dos eventos extremos sobre a saúde humana. O número dos mortos devido ao calor cresceu cerca de 30% nos últimos 20 anos. O ano 2023 na Europa também bateu o recorde de dias com calor extremo – o qual a ciência define como uma sensação térmica acima de 46ºC, quando torna-se indispensável tomar medidas para evitar consequências como a insolação.

No auge da onda em julho, 41% do sul europeu esteve exposto a calor forte, muito forte ou extremo, com muitos casos de estresse térmico. O termo descreve os efeitos sobre o corpo humano das temperaturas altas, combinadas com fatores como umidade, velocidade do vento, radiação solar e térmica.

Estresse térmico prolongado pode agravar doenças já existentes, além de elevar a probabilidade de exaustão e insolação, sobretudo em crianças pequenas, idosos e portadores de moléstias preexistentes. Ainda assim, tanto os pertencentes aos grupos de risco quanto parte dos serviços de saúde costumam subestimar os perigos do calor crescente, apontam o C3S e a WMO em seu relatório.

As temperaturas de 2023 afetaram, ainda, todas as geleiras europeias, que perderam muito gelo, nos Alpes até mesmo em dimensão fora do comum – também pelo fato de, no inverno, a precipitação de neve também ter sido excepcionalmente baixa. Nos últimos dois anos, as geleiras alpinas reduziram seu volume em 10%, indica o serviço Copernicus.

Esse fato evidencia as conexões entre calor, neve e seca: devido à camada de neve insuficiente, o nível do rio Po, nos Alpes italianos, permaneceu abaixo da média, e essa água fez falta ao norte da Itália, já afligido pela seca.

Calor e seca também alimentam os incêndios florestais, que em 2023 ocorreram em toda a Europa, consumindo uma área equivalente a Londres, Paris e Berlim juntas. O maior incêndio já registrado na União Europeia foi na Grécia, destruindo uma superfície comparável ao dobro da metrópole Atenas.

Por que tanto calor na Europa?

A Europa é o continente que se aquece com maior velocidade, cerca de duas vezes mais rápido do que a média global. A vice-diretora do Copernicus, Samantha Burgess, atribui a proximidade ao Ártico, cujas temperaturas sobem quatro vezes mais rápido do que no resto do planeta.

Outro fator seria também a melhora da qualidade do ar na Europa. Esta resulta na presença, na atmosfera, de menos partículas que refletem a luz solar e contribuem para o esfriamento, explica Burgess.

Em contrapartida, nunca houve no continente tanta energia de fontes renováveis: em 2023 elas foram responsáveis por 43% da geração de eletricidade – contra 36% ainda no ano anterior. As tempestades do outono e inverno proporcionaram energia eólica acima do usual, e os níveis altos de alguns rios possibilitaram mais energia hidrelétrica.

Apesar de ter sido o segundo ano com mais energia renovável do que de combustíveis fósseis, danosos ao clima, o relatório do C3S-WMO acusa em 2023 uma elevação das emissões de gases do efeito estufa, corresponsáveis pelo aquecimento do planeta.

O diretor Buontempo considera improvável que os efeitos climáticos prejudiciais vão diminuir, pelo menos no curto prazo. Portanto, acrescenta Burgess, já se pode contar com recordes sucessivos, até que as emissões de gases-estufa atinjam o zero líquido e o clima global se estabilize. A vice-diretora do C3S já antecipa novos recordes de temperatura no próximo verão europeu (junho a setembro), em especial pelo fato de o efeito El Niño ter fim em 2024.

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