Governo da Colômbia tomou decisão após o presidente da Argentina chamar o líder colombiano de "assassino terrorista". Na Venezuela, opositores de Maduro estão no escuro após buscarem refúgio em embaixada argentina.
O governo da Colômbia ordenou nesta quarta-feira (27/03) a expulsão de diplomatas da embaixada da Argentina em Bogotá após o presidente argentino, Javier Milei, chamar de "assassino terrorista" o chefe do governo colombiano, Gustavo Petro, durante uma entrevista à rede de televisão CNN en Español.
A medida foi anunciada pelo Ministério das Relações Exteriores colombiano em um comunicado no qual não revelou o número de funcionários envolvidos.
"O governo da Colômbia ordena a expulsão de diplomatas da embaixada da Argentina na Colômbia. O alcance dessa decisão será comunicado à embaixada argentina por meio dos canais institucionais diplomáticos", diz a nota.
Milei chamou Petro de "assassino terrorista" e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, de "ignorante" em uma entrevista à CNN en Español que será exibida na íntegra no próximo domingo, mas que teve uma prévia divulgada nesta quarta-feira.
No comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia disse que o governo do país "repudia as declarações feitas pelo senhor Javier Milei, presidente da Argentina (...) nas quais ele se expressa de forma degradante contra o principal mandatário dos colombianos, o respeitado senhor Gustavo Petro".
"Não é a primeira vez que o senhor Milei ofende o presidente colombiano, afetando as relações históricas de fraternidade entre a Colômbia e a Argentina", afirma a nota.
O texto ressalta que essas e outras declarações anteriores do presidente argentino "prejudicaram a confiança de nossa nação, além de ofender a dignidade do presidente Petro, que foi eleito democraticamente".
Embora não tenha sido o primeiro confronto entre Milei e Petro, que são ideologicamente opostos, esse atingiu o ponto mais agudo da crise, já que a expulsão de diplomatas é uma medida raramente usada pelo governo colombiano.
O caso mais recente de que se tem notícia foi a expulsão, em dezembro de 2020, de dois diplomatas da embaixada da Rússia em Bogotá acusados de "atividades incompatíveis" com seu cargo por supostamente realizarem trabalho de inteligência militar.
Em 26 de janeiro, o governo colombiano chamou seu embaixador na Argentina, Camilo Romero, para consultas depois que Milei afirmou, em outra entrevista, que Petro "é um comunista assassino que está afundando" o próprio país. Na diplomacia, essa medida é um meio de demonstrar insatisfação com a atitude de outro país.
Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia disse em um comunicado que essa declaração "desconsidera e viola os profundos laços de amizade, compreensão e cooperação que historicamente uniram a Colômbia e a Argentina".
Um mês depois, em 24 de fevereiro, o governo colombiano expressou uma "rejeição enérgica" ao que descreveu como "declarações irresponsáveis" de Milei sobre Petro, a quem chamou de "uma praga".
Naquela ocasião, a rede de televisão colombiana NTN24 entrevistou Milei quando ele saía da conferência anual da direita americana CPAC, realizada em National Harbor, nos EUA.
Respondendo à pergunta de um jornalista sobre o que achava de Petro, Milei disse: "Ele está afundando os colombianos, ou seja, é uma praga letal para os próprios colombianos".
A relação entre Petro e Milei nunca foi boa e, quando o argentino ainda era candidato à presidência, o líder colombiano o atacou por seus comentários depreciativos sobre os socialistas, comparando suas ideias às de Adolf Hitler.
Durante a última campanha eleitoral argentina, Petro apoiou abertamente o adversário de Milei no segundo turno, Sergio Massa, e quando o ultraliberal foi eleito presidente, em outubro, o presidente colombiano descreveu a vitória dele como "triste para a América Latina".
Além disso, o chefe do governo colombiano comparou Milei aos ditadores Jorge Videla, da Argentina, e Augusto Pinochet, do Chile, algo pelo qual ele também foi criticado na época.
O governo Milei está envolvido em outro incidente diplomático na América do Sul nesta semana. Um grupo de seis membros da oposição venezuelana refugiados desde segunda-feira na residência oficial da embaixada da Argentina em Caracas declararam-se nesta quarta-feira "protegidos" pelo governo argentino, e denunciaram o "assédio" do regime venezuelano, incluindo o corte de eletricidade à representação diplomática.
"Somos seis dirigentes políticos perseguidos pelo regime de Nicolás Maduro, refugiados na embaixada da Argentina em Caracas (...) e desde que o regime tomou conhecimento da nossa presença aqui, depois de emitir um mandado de captura, iniciou um assédio à sede diplomática", disse Omar González Moreno à Rádio Rivadavia OM630, da Argentina.
O ex-governador do estado venezuelano de Bolívar disse ainda que o corte de eletricidade causou constrangimentos à residência oficial da embaixada da Argentina em Caracas.
Segundo González Moreno, foi registrado em vídeo os funcionários da empresa estatal de eletricidade da Venezuela a fazerem o corte seletivo à representação diplomática.
Gónzalez Moreno explicou que esta situação "faz parte da perseguição desencadeada contra quem defende a liberdade de voto dos venezuelanos".
"É uma situação inédita. Ontem, o próprio Nicolás Maduro teve o descaramento de denunciar publicamente que (...) o partido fundado por María Carina Machado (candidata presidencial designada pela oposição mas impedida pela Justiça de concorrer), é um partido terrorista (...) para continuar a escalada brutal contra todo o tipo de dissidência", frisou Gónzalez Moreno.
Ele explicou ainda, em declarações por telefone à Rádio Rivadavia OM630, que vários colegas do partido foram "detidos violentamente", entre eles, uma colega deputada, por agentes com o rosto coberto, e que mais de uma semana depois continuam em parte incerta.
"São desaparecimentos forçados. Não permitiram nem aos seus advogados, famílias, amigos, colegas de partido saber onde estão detidos, nem qual o estado de saúde. Isto é parte do que estamos vivendo, a brutal tirania que há na Venezuela", disse.
Nas últimas semanas, as autoridades venezuelanas detiveram nove opositores, dois do partido Causa R e sete do Vem Venezuela (VV), por alegadamente conspirarem contra o presidente e prepararem atos violentos no país antes das presidenciais de 28 de julho. Pelas mesmas acusações foram ainda emitidos outros sete mandados de detenção para membros do VV.
Em comunicado, a diplomacia de Buenos Aires justificou o refúgio dado aos opositores venezuelanos na embaixada citando a Convenção de Viena e reclamou da falta de energia no prédio, recordando "a obrigação do Estado de acolhimento de salvaguardar as instalações da missão diplomática contra intrusões ou danos e de preservar a tranquilidade e a dignidade da missão".
As relações entre Argentina e Venezuela, estreitas durante os mandatos dos peronistas Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), pioraram desde a chegada à Casa Rosada em dezembro do ano passado do ultraliberal Milei, crítico ferrenho do presidente venezuelano.
md/bl (EFE, Lusa)
2024-03-28T12:13:00Z dg43tfdfdgfd