POR QUE OS EUA SUSPENDERAM ENVIO DE BOMBAS A ISRAEL

Os Estados Unidos suspenderam na semana passada o envio de um carregamento de bombas para Israel devido a preocupações de que o país realizaria uma grande operação terrestre na cidade de Rafah, no sul de Gaza, informou um alto funcionário do governo americano.

O carregamento consistia em 1,8 mil bombas de 907 kg e 1,7 mil bombas de 227 kg, afirmou a autoridade à rede CBS News, parceira de mídia da BBC nos EUA.

De acordo com esta fonte, Israel não “satisfez totalmente” as preocupações dos EUA sobre as necessidades humanitárias dos civis em Rafah.

Israel, por sua vez, não emitiu comentário de imediato.

Durante a noite, ocorreram novos ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza, horas depois de as forças israelenses terem assumido o controle do lado palestino da estratégica passagem de Rafah, na fronteira com o Egito.

O bombardeio israelense foi particularmente intenso em torno de Rafah. Médicos locais disseram que sete membros de uma família foram mortos em um ataque.

Rafah tem sido um ponto de entrada fundamental para a ajuda humanitária — e a única saída para as pessoas que foram capazes de fugir desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro passado.

A passagem permaneceu fechada na manhã de terça-feira (7/5), mas os militares israelenses informaram que estavam reabrindo a passagem de Kerem Shalom, nas proximidades, que havia sido fechada há quatro dias por causa do lançamento de foguetes do Hamas.

Na segunda-feira (6/5), os militares israelenses ordenaram que dezenas de milhares de civis começassem a se retirar de regiões próximas do leste da cidade de Rafah, antes do que chamaram de uma operação “limitada” para eliminar combatentes do Hamas e desmantelar infraestruturas.

Enquanto isso, continuam as tentativas para alcançar um cessar-fogo, em paralelo à libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos. As delegações de Israel e do Hamas devem retomar as negociações por meio de mediadores no Cairo.

“A posição dos EUA tem sido a de que Israel não deveria lançar uma grande operação terrestre em Rafah, onde mais de um milhão de pessoas estão abrigadas sem ter para onde ir”, afirmou o alto funcionário do governo dos EUA.

“A gente vem estabelecendo um diálogo com Israel, no formato do nosso Grupo Consultivo Estratégico, sobre como eles vão satisfazer as necessidades humanitárias dos civis em Rafah, e como vão operar de forma diferente contra o Hamas lá, em comparação com qualquer outro lugar em Gaza.”

E disse, ainda: "Essas discussões estão em andamento, e não satisfizeram totalmente nossas preocupações. À medida que os líderes israelenses pareciam se aproximar de um ponto de decisão sobre essa operação, começamos a analisar cuidadosamente as propostas de transferências de determinadas armas para Israel que poderiam ser usadas em Rafah. Isso começou em abril”.

“Como resultado desta revisão, suspendemos o envio de um carregamento de armas na semana passada. Consiste em 1.800 bombas de 2.000 libras (907 kg) e 1.700 bombas de 500 libras (227 kg).”

“Estamos especialmente concentrados no destino final das bombas de 2.000 libras e no impacto que podem ter em ambientes urbanos densos, como vimos em outras partes de Gaza”, acrescentou.

A autoridade disse ainda que “para alguns outros casos no Departamento de Estado, incluindo kits JDAM [Munição Conjunta de Ataque Direto, na sigla em inglês], estamos continuando a revisão. Nenhum destes casos envolve transferências iminentes — tratam-se de transferências futuras.”

Ele destacou que os carregamentos não estavam relacionados com o pacote histórico de ajuda militar de US$ 17 bilhões do mês passado — eles haviam sido retirados de "fundos previamente destinados".

As bombas maiores, de 2.000 libras, provavelmente são Mk-84 ou possivelmente BLU-109 — ou ambas.

A primeira é uma munição barata de uso geral, e a segunda é uma bomba de penetração projetada para uso contra alvos reforçados ou subterrâneos. Ambas podem ser equipadas com kits JDAM que oferecem capacidade de precisão usando navegação por satélite. Kits de orientação a laser também podem ser instalados.

Essas bombas podem ser fabricadas para ter muita precisão, de apenas alguns metros. Mas em um ambiente urbano denso como Gaza, o risco dos chamados “danos colaterais” é alto. E é aí que mora a preocupação. As bombas menores de 500 libras também podem ser equipadas com unidades de orientação lançadas de jatos.

Não sabemos exatamente como Israel utiliza estas armas, mas postagens da Força Aérea Israelense mostram frequentemente caças F-16 e F-15 carregados com JDAMs para ataques.

Vale a pena lembrar que tais armas não seriam utilizadas apenas em Gaza, mas também em alvos no sul do Líbano, pertencentes ao grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã, que tem estado envolvido em trocas de tiros quase diárias com as forças israelenses na fronteira desde o início da guerra em Gaza.

As armas retidas pelos EUA estão atreladas a uma entrega futura, então é pouco provável que tenham qualquer impacto imediato. Mas dado o ritmo com que Israel está bombardeando, provavelmente vai afetar futuros ataques muito em breve.

É uma mensagem clara de Washington, que está cada vez mais preocupado com a campanha de Israel em Gaza.

Israel lançou a campanha para destruir o Hamas em resposta ao ataque do grupo palestino no sul de Israel em 7 de outubro, durante o qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 252 foram feitas reféns.

Mais de 34.780 pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

Em um acordo fechado em novembro, o Hamas libertou 105 reféns em troca de um cessar-fogo de uma semana e de cerca de 240 prisioneiros palestinos que estavam em prisões israelenses. Israel afirma que 128 reféns estão desaparecidos, 36 dos quais são dados como mortos.

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